lamentação

#2 o muro do silêncio

outubro 25, 2018


      O que sabemos sobre o silêncio? É algo que não se explica, talvez porque não exista e seja apenas um constante rumor de algo que sobrevive na sua inexistência. Contudo, o mais estranho nisto tudo é a nossa necessidade de escutar o silêncio. E achar que ele tem tanto para nos dizer. Será verdade que o silêncio tem algo a dizer-nos ou seremos apenas nós próprios que temos algo a dizer a nós mesmos? É estranho pensar nisso, mas sempre que precisamos dele, é porque no meio de tanto vazio vemos tanta carga emocional, muita mais feroz e persistente que uma tão dita «lição de moral» ou mesmo «um enxerto de porrada».
Mas como é possível que algo inexistente consiga ser tão bruto? É, o silêncio nem sempre nos consegue trazer paz, por vezes só consegue ferir-nos ou até mesmo violentar-nos. Por vezes, criamos uma prisão em volta de nós próprios e, ficamos sem coragem para nos libertar desta, porquê? Porque o ser humano é assim, esconde-se atrás de si mesmo, ou melhor, esconde-se atrás do que queria ser, do que é «socialmente aceite» e, então refugiamo-nos no silêncio porque sabemos que o esforço de debater seria apenas escusado e esgotante. O que ganhamos nesse momento? Apenas revolta e rebeldia, pois estamos escondidos atrás de um «muro», o «muro do silêncio». Acabamos por perder todas as forças para expressar os nossos pontos de vista. É sempre mais fácil ficar escondidos atrás de um «muro», mas até quando esse «muro» aguenta? Cada vez, vamos enchendo mais esse muro com um turbilhão de pensamentos e mágoas. E quando o tal «muro» nem nos deixar ver a luz do dia, será que aí seremos capazes?
O silêncio torna-se solidão, um vazio cada vez maior. Mesmo quando estamos acompanhados pelo maior grupo de amigos, sentimos que estamos isolados, sozinhos. Acabando por perder toda a pertença àquele lugar, como se nunca tivéssemos tido importância, um sentimento de que somos dispensáveis. Perdemo-nos nessa irrelevância emocional, por falta de coragem de derrubar um «muro psicológico». Isso vai minando a nossa autoestima e a nossa capacidade de sermos felizes.
Por vezes, é só mágoa, ressentimento, lamentação armazenada, acabamos por sufocar os nossos sentimentos para que eles não nos persigam, para quê mesmo? Para que estejamos a condizer com o que todo o mundo espera, para sermos «socialmente» aceites. Mas para isso temos de desapegar e libertar-nos do que realmente somos, porque simplesmente não podemos seguir tranquilamente o caminho que queremos traçar. O problema é que nem todos suportamos esse «muro» e, se aguentarmos, até quando?

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